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Professor Rizzo: guardião do meio ambiente e do patrimônio histórico

Em 03/09/09 05:56.
O professor Rizzo destaca-se por sua incansável luta para compartilhar suas descobertas e fazer das mesmas um instrumento de fundamental importância na defesa do meio ambiente.

Professor Rizzo: guardião do meio ambiente e do patrimônio histórico

Foi com extrema satisfação e honra que, em nome da Câmara Municipal de Goiânia, entreguei o título de Cidadão Goianiense ao professor José Ângelo Rizzo, na última terça-feira. Professor emérito e Doutor em Botânica pela Universidade Federal de Goiás, com 37 livros publicados em âmbito nacional e internacional, membro do Conselho Estadual do Meio Ambiente e ex-presidente do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de Goiânia, trata-se de um homem que somente por seu currículo nos impressionaria muito. Entretanto, seu valor vai muito além de seu saber científico, pois mais que produzir conhecimento, o professor Rizzo destaca-se por sua incansável luta para compartilhar suas descobertas e fazer das mesmas um instrumento de fundamental importância na defesa do meio ambiente.

Depois de tornar-se chefe do Departamento de Botânica da UFG, não se limitou ao ambiente acadêmico e fundou a primeira sociedade ecológica do Centro-Oeste: a Sodema. O herbário da UFG, o Jardim Botânico de Goiânia, as reservas biológicas de Serra Dourada e da UFG (Escolas de Veterinária e de Agronomia e Engenharia de Alimentos), bem como o Bosque Saint-Hilaire, também são decorrências quase que direta de sua luta ambientalista. É de sua autoria a famosa Coleção Rizzo, que se refere ao levantamento da flora goiana. Se hoje os Estados de Goiás e Tocantins possuem um bom nível de conhecimento sobre a flora que compõe seus territórios e se hoje os goianienses têm, no meio de sua capital, um verdadeiro pulmão verde com 1 milhão de metros quadrados de exemplares do Cerrado, é ao professor Rizzo a quem devem agradecer.

Há vários e destacados pesquisadores da área de Botânica em Goiás. No entanto, o que torna o professor Rizzo tão singular é justamente sua capacidade de aliar o método, a sistematização, a persistência e a minúcia que o trabalho científico exige a qualidades humanas tão nobres, quanto a generosidade, o senso de coletividade e a responsabilidade de saber que a tarefa de preservar os recursos ambientais deve ser exercida por cada um de nós. Muitos são aqueles que produzem artigos científicos, monografias, teses e dissertações de extrema importância em nosso País. Porém, poucos são aqueles que, despidos de vaidade e de individualismo, decidem compartilhar com toda a sociedade o enorme conhecimento que acumularam e estimulam a população a se organizar na defesa de seus patrimônios mais caros: a história, a cultura e o meio ambiente.

Graças ao trabalho desenvolvido pelo professor Rizzo, hoje temos obras imprescindíveis para a compreensão das peculiaridades que compõem a nossa vegetação, tais como A Flora dos Estados de Goiás e Tocantins e Sobre a Arborização. Em função desses trabalhos, a preservação do Cerrado tornou-se mais viável, pois biólogos, agrônomos, engenheiros ambientais e uma série de outros profissionais que lidam diretamente com esse tipo de vegetação podem contar com informações precisas e seguras. Pode-se ter uma ideia da grandeza desse homem ao se observar de perto a importância do Cerrado. Esse bioma abrange uma parte expressiva do território nacional e é considerado “o berço das águas” no Brasil. Ocupando 25% do território nacional, o Cerrado abrange o Distrito Federal e mais doze Estados: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, Piauí, Tocantins, Bahia, Ceará, Maranhão e São Paulo, chegando ainda ao Paraná e a Rondônia.

O Cerrado abriga três das maiores bacias hidrográficas da América do Sul: a do Tocantins-Araguaia, a do São Francisco e a do Prata. Também em função de sua localização, o Cerrado acaba compartilhando espécies animais dos outros biomas, o que lhe garante uma vasta biodiversidade. Estima-se que existam ali 10 mil espécies de vegetais – como o pau-santo, a gabiroba, o pequizeiro, a sucupira, o pau-terra, a catuaba e o indaiá. Abriga ainda 837 de aves e 161 de mamíferos. Isso corresponde a 5% de toda a fauna e flora mundiais. Aqueles que colaboram com a preservação desse verdadeiro santuário ecológico, como o professor Rizzo, são dignos dos maiores reconhecimentos e honras, pois estão garantindo a preservação da biodiversidade e a perspectiva de um futuro melhor às próximas gerações.

No caso do patrimônio histórico e cultural de Goiânia, se hoje a capital possui tombados vários de seus monumentos art déco e construções históricas, se hoje há quem se preocupe com a manutenção dessas edificações, assim como com o legado deixado pelos pioneiros da cidade, é também graças aos esforços do professor Rizzo. Com suas intervenções à frente do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, fomos capazes de perceber uma nova dimensão de nossa capital, marcada não somente pelo grande crescimento econômico e demográfico, mas, sobretudo, por um aspecto humano e cultural rico, marcado pelas lembranças e heranças daqueles que aqui fizeram história e deixaram sua marca.

Não bastassem todas essas razões, o professor Rizzo ainda conta com outro grande mérito, que o torna sem sombra de dúvida merecedor da homenagem que a Câmara de Goiânia lhe rendeu. Falo de sua humildade. Trata-se de um homem que, a despeito de todas as suas enormes realizações dentro e fora da academia, jamais utilizou-se de suas conquistas para conseguir benefícios financeiros ou políticos, nem para obter reconhecimento social. Falo de um homem que, embora seja uma das maiores autoridades em sua área dentro e fora do Brasil, nunca deslumbrou-se com o sucesso nem deixou de atender a todos os que o procuram com simplicidade e boa vontade.

Guimarães Rosa disse, em sua obra prima Grande Serão Veredas, que “o sertão é dentro da gente”. Creio que ninguém melhor que o professor Rizzo para nos mostrar como internalizar, não apenas na mente, mas também no coração, a concepção de que a preservação da natureza e da história são questões urgentes. A concepção de que o que nos parece mais rústico e banal, tal como uma árvore plantada na calçada ou no meio da mata, seja, provavelmente, o que nos resta de mais precioso e genuíno. Parabéns, professor Rizzo, por ter nos ensinado tanto dentro da universidade e, sobretudo, fora dela. Parabéns por nos encher de orgulho e, sobretudo, de esperança. Que a esperança de seus feitos renda frutos e perpetue nas próximas gerações seu amor pela natureza e pela raça humana.

Djalma Araújo é vereador pela 5ª vez e 1º secretário da Câmara Municipal de Goiânia (djalmaaraujopt@yahoo.com)

Fonte: DM - Opinião - Djalma Araújo - 27/06/2009

 

Fonte: Diário da Manhã: Opinião